João, pelo
seu nome nada composto ou complexo, queria se afogar, mas como mar não tinha
ali, no deserto da solidão da vizinhança, sua última opção era mesmo se
enforcar. Como que vivia numa casa sem teto e sem nenhum suporte, sem mobília
nem paredes, não havia jeito fácil para trepar em algo e deixar a queda tomar
conta da corda que por sua vez iria prendê-lo no mundo dos mortos. Lembrou-se
então ele do único presente que havia recebido em vida, de uma criança de uns 5
anos que o havia visto outro dia pedindo esmola, como sempre. Uma dúzia de
balões, que no momento foi completamente inútil e só veio para lhe frustrar a
alma, mas algo lhe disse que aquilo seria útil. E ali, no canto, amarrados a
uma única corda de barbante, e esta presa por um simples nó no chão duro e frio
de Pitangui, jaziam os balões que lhe salvariam da vida. Não houve sequer
hesitação naqueles milésimos de segundos quando seus olhos caíram sobre a dúzia
de cores voadoras e cheias de um gás com nome de gente. Apressou-se em correr, pois
agora que a consciência tomou conta dos balões, os mesmos poderiam como que num
átimo perder toda sua magia e esvaziar-se, levando assim a última chance de dar
um oi para morte. Desamarrou-os. As mãos tremendo tanto que seria possível
alardear os moradores da proximidade, se houvessem moradores na proximidade.
Prendeu o fio dos balões sob uma pedra (muitíssimo pesada por sinal), suas mãos
trabalhavam com maestria, como se o propósito de uma vida nada agradável fosse
preparar o próprio escoamento da vida, e logo improvisou dois laços,
separando-os para que um ficasse amarrado ao solo e o outro aos balões. Toda
essa grandeza passeava pelos seus olhos que incrivelmente captavam todos os
detalhes daquela única e última apresentação. Tendo a certeza de que pelo menos
assim ninguém jamais morrera, e seria o único enquanto vivo capaz de realizar
tal feito, e isso o enchia de glória, até mesmo dando vontade de aproveitar o
último fio de vida, mas era uma vontade passageira já que a morte era inquestionável
para o seu maior feito em terra.
No barbante
dos balões, ainda presos, estava o outro laço, que seria passado pelos pés, e
agora isso haveria de ser feito com extrema cautela, visto que, se os balões
escapassem e ele não houvesse prendido seus pés, poderia causar uma tragédia, o
deixando vivo e inexistente para todo sempre.
Uma hora se
passou até que estivesse o laço firme e preso em seus pés, o pescoço já
devidamente enforcado e solto, preso à corda no chão. Agora bastava soltar o
peso que prendia os anjos celestiais que o levariam ao céu. E assim sucedeu, e
como esperado, a mão do diabo não deixou que os anjos cumprissem sua missão,
impedidos de alçar voos maiores, e possibilitando ao nosso querido João, um
último segundo de vida para que o sorriso viesse uma vez preencher sua face. A
vida agora fazia sentido e, nesse momento, o Ex-João jazia morto, enforcado ao
contrário.
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