domingo, 14 de julho de 2013

Meu armário

Meu armário foi construído com vigas de concreto. Ele era especial, tinha espaço para minhas armaduras matinais e alguns calabouços escondidos em pequeninas gavetas. Meu armário não aparentava ser um armário, mais parecia um lustre, todo rebuscado e com detalhes em relevo que impressionavam os olhos dos virgens imobiliários. Lá dentro era possível fazer romances e romancear como nos primeiros dias da primavera. O som ambiente era de pássaros que cantavam à liberdade e a temperatura agradaria até o mais desconfiado dos físicos. Meu armário era único, até o momento em que uma grande salamandra o roubou de mim e o enfeitiçou para que se tornasse nada mais que sapatos. Hoje, meu armário não vibra como nos tempos de outrora, não canta como se mil pássaros estivessem em coro sentados em algum cabide. Meu armário simplesmente me leva por aí, e de vez em quando topa com algum desconhecido que no futuro seja do conhecimento da consciência, mas ele nada mais faz do que obedecer ordens. Hoje eu perdi todo meu acervo de armaduras.

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